O Budismo Tibetano e a Psic. Analítica de Jung Postado em

O Budismo Tibetano e a Psic. Analítica de Jung

 O Budismo Tibetano e a Psic. Analítica de Jung

Buda Contemporâneo

 


Para nós teosofistas, a psique envolve tudo o que está entre o corpo físico e o Ego teosófico, ou o Eu-Superior. Atma, Buddhi e Manas. Buddhi e Manas correspondem ao Self.

Jung classifica quatro tipos humanos: o pensativo, o sentimental, o intuitivo e o perceptivo. Os dois primeiros ligados a funções racionais e os dois últimos ao irracional. Todos nós nos enquadramos em um destes tipos, eventualmente em dois e às vezes alguns poderão dominar três, mas os quatro juntos não é possível dentro de uma condição normal.

O processo de individuação leva à integração destes quatro tipos, sendo utilizada a linguagem do inconsciente coletivo, que envolve os mitos, os sonhos, ou seja, o mundo dos arquétipos que são conteúdos do inconsciente coletivo. São imagens primordiais sem conteúdo, formas de pensamento, gravadas na constituição psíquica, que já eram de conhecimento dos budistas, conforme já mencionamos.

Sem este fator, segundo Jung, é impossível de se chegar ao Self. O Self é a quintessência dos arquétipos, sendo o princípio organizador, guia e unificador que dá direção à personalidade e sentido à vida. É o ápice do crescimento pessoal que leva a auto-realização, ou seja, é o homem eterno, a divindade no homem. É atemporal, único, eterno e universal.

O inconsciente coletivo, que é parte da psique, deve-se à hereditariedade e não às experiências pessoais. Isso está numa camada, num estrato, que todos podem acessar de uma maneira inconsciente. Podemos fazer uma analogia aos registros Akashicos ou registros búdicos. Ele diz que o inconsciente é constituído por material esquecido ou reprimido. Jung fala ainda em psique subjetiva que é o inconsciente pessoal e a psique objetiva, impessoal, transpessoal, essa sim o inconsciente coletivo.

Essa foi a maior contribuição de Jung; a descoberta do inconsciente coletivo.

O conceito de ego segundo Freud e isso se aplica às condições da psique de Jung, é um coitado, pois está pressionado pelo Id, que é o aspecto de desejos inconscientes, hereditários, transcendentes, que leva ao prazer. O ego submetido ao id vive uma vida de prazeres, condicionado àquela estrutura que vimos no início. A roda de prazer e dor, que leva ao sofrimento. Por outro lado Freud diz que existe o superego, que é o que impõe as regras, os limites, o castrador. A pessoa também que é submetida ao superego também vai sofrer. O ego também é confrontado com o mundo exterior, com todos os perigos latentes. O ego então fica confinado a essas condições da vida, duas internas e uma externa.

O desenvolvimento do método de Jung foi desenvolvido através da sua própria experiência. Ele percebe que o método funcionou para ele e conclui que é possível ser aplicado a outros, constituindo-se em um modo revolucionário de analisar essas questões da espiritualidade sob o prisma científico, dentro de uma metodologia controlada.

O método é chamado de psicologia analítica. Inicialmente ele chamou de psicologia dos complexos.

Jung diz que a pessoa que passa pelo processo tem que necessariamente assumir um compromisso ético, pois uma vez que se tenha descoberto a sua patologia o paciente tem um compromisso ético em relação àquilo, que é a idéia do budismo. Pois se você se conscientiza, entende e pensa corretamente, tem que assumir uma postura ética que é a fala, a ação, o modo de vida e o esforço corretos.

A função de todo o processo é curadora, tanto é que em seu livro “Memórias, Sonhos e Reflexões” Jung diz  “A Cura das Almas é minha missão”.

A psicologia de Jung cura a alma e não é simplesmente um processo de ajuste da personalidade e cura de sintomas.

É um processo de Integração da personalidade, autônomo e inconsciente, que determina um impulso natural e espontâneo para auto-realização, podendo tornar-se atividade consciente. A personalidade permeia-se de luz e o consciente estende-se e amplia-se mais.

O processo, embora seja inconsciente, pode tornar-se atividade consciente, direcionado pela própria pessoa. É o princípio da função transcendente, como no Budismo, existindo uma luta contra as forças opostas, entre o inconsciente e o inconsciente, representada pelas mandalas.

Esse processo de alimentação mútua, onde o consciente clareia o inconsciente e este nutre o consciente, harmonizando conteúdos, permitindo que o inconsciente fale no silêncio e se perceba pacientemente as mensagens. Isso faz com se transforme a personalidade. Desenvolve-se a plenitude do indivíduo.

Isso arredonda a personalidade e faz com que se contate o numinoso, ou seja, tudo aquilo que foge da esfera do fenômeno material, o universo que é o que é, sem conceitos, a percepção budista da vacuidade, o não temporal e não local, o uno, Sunyata, conforme já vimos.

Nós falamos de desenvolvimento e é interessante conceituarmos o que é desenvolvimento, já que muitas vezes não prestamos muita atenção no significado das palavras.

O conceito é um pouco diferente que normalmente estamos habituados a considerar. Pode-se acreditar que para o desenvolvimento são requeridas ações externas ao meio, mas na realidade desenvolvimento requer uma interiorização. Vamos analisar o que é desenvolver. O que significa embrulhar? É revestir algo com alguma coisa. O que é desembrulhar? É tirar o revestimento de algo. O que é envolver? O mesmo que revestir, embrulhar. Desenvolver-se, então, é desembrulhar-se. Nós temos que desembrulharmos de nosso corpo físico, astral e mental, para atingirmos a pedra preciosa e incorruptível que está no âmago de nosso ser. Não no sentido de negligenciarmos esses corpos, mas de submetê-los à vontade do nosso Eu verdadeiro.

 Nós devemos ser os jogadores, mestres de nosso tabuleiro da vida, e não meros peões. Não devemos nos submeter aos condicionamentos sociais. 

Mas voltando ao processo…

Na realidade não existe um método rígido, sendo que o terapeuta é um facilitador do desenvolvimento das possibilidades criativas do paciente. O terapeuta deve ser livre de preconceitos e teorias, deve compreender o indivíduo e deixar que a natureza seja o guia.

A criatividade é um fator importante no processo, através da arte é possível se fazer a síntese. Muitas pessoas têm medo de serem criativas, por egoísmo. O ato de criar, o objeto da criação, uma vez concebido, não pertence mais a quem criou. Uma música, uma pintura, um poema, um filho. Depois de criado não pertence mais ao criador. As pessoas às vezes reprimem a sua capacidade criativa por egoísmo.

O processo além de estimular o extravasar do que está reprimido, provoca um estado mental calmo e livre de pensamentos e sem julgamentos e a observar os desdobramentos dos conteúdos inconscientes, que é similar à meditação.

Ele diz também que as experiências resultantes dos contatos mantidos com o universo do inconsciente devem ser registradas por escrito ou por desenhos, expressões criativas.

A ação deve ser pautada pela não-ação, ou seja, deixar-se ir, deixar fluir, pois isto é a chave que abre a porta do caminho, pois o consciente está a sempre interferir e não permite a fluidez. Podemos associar o consciente com a mente concreta, que analisa, critica e julga. O que Blavatsky menciona na “Voz do Silêncio” que  “A mente é a grande assassina do real. Que o discípulo mate a assassina”.

Com esse processo de interfusão e união dos opostos resulta-se na consciência crescente e na amplitude da personalidade transformada, emergindo um novo.

Emerge um novo centro de personalidade, o Self, o Eu superior, diminuindo a tendência do ego, do eu Inferior, atraindo para si tudo que pertence à unicidade, cessando o superficial e o não essencial.

Na realidade, segundo Jung,  todo esse processo é de auto-educação, não existindo cura pessoal sem a retomada da perspectiva religiosa da vida. Vejam o caráter místico no qual é revestida a sua psicologia.

Jung menciona em seu livro “A Prática da Psicoterapia” que “O processo de individuação leva ao nascimento de uma consciência da comunidade humana, justamente porque nos torna cônscios do inconsciente, que une e é comum a toda a humanidade. A individuação é uma reconciliação consigo mesmo e ao mesmo tempo com a humanidade, visto que somos parte dela”.

Para concluirmos, nos quadros temos uma síntese dos aspectos similares e diferenças apresentadas entre os dois sistemas. 

Budismo

Psicologia de Jung

Comentários feitos sobre as diferenças

Visa acabar com o sofrimento

Visa curar as feridas psíquicas do homem

 

Solução deve ser procurada dentro da psique de cada indivíduo

Idem

 

Acredita na liberação do sofrimento

O sofrimento encontra-se na natureza da vida, sendo ingrediente necessário que não pode ser eliminado por completo

Aqui para estes três aspectos existe uma divergência comum, porque o Budismo é um sistema religioso e filosófico e o do Jung não. Com relação aos princípios de opostos, Jung talvez tenha razão, pois o mesmo existe enquanto estivermos em um manvantara.

Meta final é a iluminação = estado de Buddha

É alcançar a plenitude. Realização o Self (processo que não termina).

 

Pode-se desenvolver completamente a consciência. Nenhum conteúdo pode perturbar a mente.

Jung não acreditava que a consciência pura possa ser atingida. O princípio de opostos sempre irão existir.

 

Emoções e paixões não suprimidas, mas transformadas. Contradições e paradoxos não são considerados importantes.

Idem

 

Desenvolvimento progressivo da consciência através da introspecção.

Idem

 

Uso abundante de símbolos como veículos e meios de transformação de natureza ordinária para significante

Idem

 

Exige que cada aspecto do indivíduo seja considerado no processo, nada sendo rejeitando.

Idem

 

O entendimento e conhecimento intelectual são relevantes no início do caminho, porém devem ser complementados pelo sentimento e intuição, estimulados pela contemplação e meditação

Idem

 

O Sr. Buddha se calava diante das questões filosóficas ou metafísicas, pois as mesmas geram discórdias e confusões. Mas lida necessariamente com essas questões

O caminho começa e acaba na psique, não envolvendo afirmações filosóficas ou metafísicas.

Embora o Sr. Buddha não discutisse estas questões, não tem como desassociá-las. Nagarjuna, por exemplo, que  tinha uma dialética apurada, filosofa sobre a natureza da realidade, questionando e derrubado os conceitos do niilismo e do eternalismo.

O guru é um guia espiritual no caminho e não é visto como autoridade.

Idem – terapeuta

 

O guru não se deixa influenciar pelo discípulo.

O terapeuta se enriquece no processo.

 

A autoridade é a mente. Instrumento único pelo qual se experiencia a realidade.

Idem

 

Adverte-se para os perigos e recomenda-se precauções no controle das forças interiores que são poderosas. Podem destruir a estrutura psíquica da personalidade

Idem

 

Quem quiser aprofundar mais no estudo do tema, recomendamos a leitura, além dos livros de Jung, os livros “Psicologia de Jung e o Budismo Tibetano” de Radmila Moacanin e “A Sincronicidade e o Tao” de Jean Shinoda Bolen, estes dois da Cultrix.


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